terça-feira, 23 de novembro de 2010

ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES - Faro 20/11/210

ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES.
FARO. 20 DE NOVEMBRO DE 2010 
A Associação Amigos da Grande Idade em parceria com o Instituto Leopoldo Guimarães, realizou em Faro um encontro sobre “Envelhecimento e Qualidade das organizações” que reuniu no auditório da Biblioteca da Câmara Municipal de Faro, cerca de uma centena de pessoas.
A qualidade dos oradores bem como a pertinência dos temas abordados faziam crer que teríamos mais participantes, não podendo deixar de lamentar a dificuldade que encontrámos na divulgação do evento. Mesmo assim o número de participantes fez com que possamos acreditar que este tipo de iniciativas tem importância fundamental para alertar consciências e ganhar novos defensores de uma mudança da área dos cuidados e serviços a pessoas idosas.
O evento foi iniciado com a intervenção do Presidente da Associação Amigos da Grande Idade, Rui Fontes e com intervenções do Professor Doutor Leopoldo Guimarães, Presidente do Instituto com o mesmo nome e do Presidente da Câmara de Faro, Engenheiro Macário Correia. Enquanto o primeiro saudou os presentes, o segundo falou sobre algumas questões do envelhecimento, especialmente ligadas á funcionalidade e o Engenheiro Macário Correia brindou os presentes com um discurso de grande apoio e motivação a todos aqueles que desenvolvem actividade na área da Grande Idade.
Seguiu-se a palestra do Professor Doutor Trovão do Rosário sobre envelhecimento e funcionalidade que surpreendeu todos os participantes pela facilidade de discurso e por uma linguagem simples e pragmática, desconstruindo muitos conceitos que insistem em manter-se nos cuidados e serviços a pessoas idosas.
A manhã terminou com uma mesa que debateu a qualidade e os sistemas de certificação, desmistificando também alguns fantasmas, da responsabilidade do Presidente da Empresa Internacional de Creditação, E.I.C., Engenheiro Manuel Vidigal e do auditor/consultor Dr. José de Sousa, colaborador da Associação Amigos da Grande Idade.
Aproveitando o intervalo para almoço foi realizado um workshop sobre Tele-Assistência, realizado pela empresa T. CARE que, para além de esclarecer algumas questões relacionadas com a operacionalidade desta resposta, fez a demonstração de alguns equipamentos.
Na parte da tarde, discutiu-se a alteração demográfica em curso nas sociedades em consequência do envelhecimento das populações que mereceu do Vice-Presidente da Associação, César Fonseca, uma exposição muito pormenorizada e objectiva. Seguiu-se o Presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, Dr. Rui Lourenço que fez uma análise profunda da oferta de serviços de saúde na região através da rede de cuidados continuados, informando a plateia deste serviço ter sido premiado recentemente pela sua qualidade e eficácia.
O evento terminou com uma apresentação feita pelo Presidente da Associação Amigos da Grande Idade, Rui Fontes, sobre a liderança e enquadramento das Instituições destinadas a pessoas idosas, mudando a atitude e comportamento dos actuais colaboradores destas instituições e alterando a organização das mesmas, dotando a rede constituída no terreno de liderança com autoridade reconhecida.


 Presidente da AAGI, Rui Fontes, Presidente da Câmara Municipal de Faro, Macário Correia e Presidente do ILG, Leopoldo Guimarães

                                                 Professor Doutor Trovão do Rosário


                                              Engenheiro Manuel Vidigal e Dr. José Sousa

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Investimentos em Lares de Idosos.Que soluções a propor?

Coloca-se hoje uma questão essencial para o empreendedor na área dos negócios relacionados com o envelhecimento.
Como afirmou em 2002 Kofi Anan: “A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, activo e plenamente integrado. Se não se fizerem reformas radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em qualquer altura”, o envelhecimento não é pois um drama mas uma oportunidade. Essa oportunidade é também económica.
O mundo desenvolvido vai ter nos próximos anos de encontrar respostas adequadas para as suas populações cada vez mais envelhecidas e se há alguns anos atrás os velhos constituam um pequeno grupo de cidadãos marginalizados por não terem qualquer influencia na sociedade, hoje começamos a ser influenciados por este grupo, cada vez maior, cada vez mais esclarecido e reivindicativo em consequência do seu aumento de capacidade económica.
O fenómeno Baby Boomer, começa a reflectir-se nas nossas vidas e necessariamente os grandes empreendedores têm que se adaptar.
A adaptação mais mediática que se conhece tem a ver com o sector automóvel que começa a valorizar a comodidade e segurança em detrimento da performance e da potência. Vejam-se os automóveis com sistemas automáticos de acender luzes, limpa-vidros, prevenção do choque à distância e estacionamento automatizado. Poderemos pensar que são alterações para as novas gerações? Ou será uma resposta à necessidade de termos carros para serem conduzidos por pessoas de 80 e 90 anos?
Estamos pois um pouco confundidos no sector das ofertas de cuidados de saúde e serviços sociais às pessoas idosas.
Por um lado todos sabemos que as pessoas idosas só recorrem a lares como ultima solução e, na maioria dos casos sem ser da sua vontade mas por vontade dos seus significativos, sejam filhos, netos ou outros. Sabemos que por esta razão os lares tornaram-se asilos, contentores de pessoas dependentes e incapazes, zonas terminais de vida, fins de linha.
Ao mesmo tempo que a legislação, os manuais, a teoria e os conceitos evoluíram não houve consequência neste modelo e mesmo sabendo todos que este modelo é prejudicial às pessoas idosas continuamos com receios de investir em novos modelos, ainda que a evidência quase cientifica nos indique que o actual modelo não é favorável para os idosos nem para os investidores. Os ganhos económicos com este modelo estão fechados, são os que se conhecem e dificilmente aumentarão não só porque não se altera o cliente como também porque esse modelo não permite criação de novas fontes de receita e extensão do core business.
Sobre o modelo actual realça-se inclusivamente a oficialização por parte da segurança social do seu final. Isto pode verificar-se se atendermos a que a definição de lar no já falecido despacho normativo 12/98 era: “Estabelecimento em que sejam desenvolvidas actividades de apoio social a pessoas idosas através de alojamento colectivo, de utilização temporária ou permanente, fornecimento de alimentação, cuidados de saúde, higiene e conforto, fomentando o convívio e propiciando a animação social e a ocupação dos tempos livres dos utentes.”, passando nos manuais de qualidade da segurança social, editados a pouco mais de dois anos, a ser: A Estrutura Residencial constitui-se como uma Resposta Social, desenvolvida em equipamento, destinada a alojamento colectivo, num contexto de “residência assistida”, para pessoas com idade correspondente à idade estabelecida para a reforma, ou outras em situação de maior risco de perda de independência e/ou de autonomia que, por opção própria, ou por inexistência de retaguarda social, sem dependências causadas por estado agravado de saúde do qual decorra a necessidade de cuidados médicos e paramédicos continuados ou intensivos, pretendem integração em estrutura residencial, podendo aceder a serviços de apoio biopsicossocial, orientados para a promoção da qualidade de vida e para a condução de um envelhecimento sadio, autónomo, activo e plenamente integrado.
Esta é a mudança de termos um modelo para dependentes e um modelo para independentes.
Houve quem empreendesse em novos modelos mais destinados a pessoas idosas independentes com objectivo de desenvolverem novos conceitos de vida e de aproveitarem os seus mais elevados anos para prosseguirem uma vida saudável, equilibrada e activa. Cedo se tornou evidente que este modelo alguns anos depois tem no seu interior metade da população dependente e incapaz gorando as expectativas dos que o escolheram para os objectivos acima referidos: vida activa e saudável. Os velhos afinal também envelhecem nas Instituições e também ficam dependentes! E quando isso acontece somos obrigados a mantê-los no mesmo espaço por não existir outra resposta.
Mesmo não admitindo para estas unidades pessoas dependentes, elas vão ficando com pessoas nessa situação por esse percurso impossível de interromper que é o envelhecimento. Isso faz com que novos clientes não surjam porque encontram um local um pouco melhor do que o modelo clássico mas com muita gente sentada todo o dia em sofás a aguardar simplesmente a passagem do tempo, com necessidades básicas para se alimentarem, vestirem, eliminarem e comunicarem.
Este modelo é mais tolerável do que o primeiro mas não responde ao novo cliente.
Há pois uma certeza: é necessário criar-se um novo modelo para pessoas independentes que não se torne com o passar do tempo, um local de dependentes. Para isto propõe-se a criação junto do Lar de independentes de uma unidade que assegure a continuidade dos cuidados e serviços quando as pessoas ficam dependentes podendo as mesmas terminar ai os seus dias ou, após recuperação, voltar à sua unidade. No fundo é estar em casa e ser internado no Hospital, podendo ser visitado sem restrições, usufruindo de cuidados de saúde especializados e podendo regressar ao seu “domicilio” ou ai terminar os seus dias com dignidade e qualidade.
Mas a isto contrapõe-se a ideia de que as pessoas não vão para lares antes de estarem com alguma dependência. Ora esta questão é aquela da cobra que começa a comer o rabo. Como termina a história?
As pessoas de facto não vão para lares sem que se sintam dependentes ou forçadas a isso. Mas estamos a falar dos lares que existem e não podemos extrapolar para uma situação em que os lares não sejam assim. No fundo os lares não são diferentes porque as pessoas só vão para os lares quando estão dependentes mas não existe oferta para saber se os independentes não iriam se tivessem respostas onde este problema da dependência fosse resolvido e não obrigasse a um convívio deprimente e até violento.
Na minha modesta opinião só poderemos ter algumas certezas se existirem ofertas. Ou seja não poderemos dizer que as pessoas não vão para os lares se as ofertas se limitarem ao rabo da pescada (IPSS e misericórdias) e à cabeça da pescada (Residências assistidas) e não existir um modelo intermédio para o maior segmento de mercado de todos os negócios – classe média e média alta.
É um risco? De facto é um risco. Mas risco será investir-se em modelos que as transformações da sociedade e as próprias necessidades das pessoas idosas começam a colocar em causa: os actuais modelos.
Existe aqui um factor de que raramente se fala: se o modelo de residências assistidas tivesse um custo para o cliente entre os 1400 e os 1800 euros, estariam vazias? O factor essencial da falta de procura deste modelo prende-se exclusivamente com a capacidade económica ou não será assim?
Há pois que trabalhar em modelos para as pessoas independentes que desejem ter acompanhamento e segurança nos anos mais elevados da sua vida. È certo que o melhor é viver em casa mas a diferença entre viver em casa e viver num novo modelo destes é a possibilidade de perante um acontecimento crítico (AVC, queda, etc.) poder viver após isso cinco, dez ou mais anos independente (porque houve uma intervenção atempada e integrada) ou viver esse anos incapacitado até falecer. Se as pessoas idosas de gerações anteriores não compreendiam com facilidade isto, sou capaz de afirmar que qualquer pessoa que nos rodeia, especialmente nas zonas urbanas, compreende com facilidade esta mensagem.
O Lar tem que se tornar a resposta para todos, os que com mais de 65 anos queiram terminar a sua vida, nem que seja aos cem anos, com capacidade, com acompanhamento, com resposta imediata aos acontecimentos críticos que são mais previsíveis do que eram até essa idade. Nesta perspectiva o segmento alarga-se porque essas pessoas sabem que entram numa instituição onde não vão partilhar espaços com incapazes, dependentes e doentes. Sabem que quando isso lhes acontecer continuam a usufruir da qualidade dos serviços e dos cuidados num espaço diferente mas contíguo no qual já conhecem os profissionais que cuidam deles e do qual sabem que podem regressar e continuar os seu projectos de vida, também entendendo que é ai que podem terminar os seus dias.
O segmento alarga-se a todas as pessoas idosas que vivem na ansiedade do isolamento, porque não tem filhos ou netos ou porque os mesmos não estão próximos ou ainda porque não tem condições para tratar deles. A todas as pessoas que por viuvez queiram iniciar um projecto de vida diferente, apoiado e profissionalmente controlado. A todas as pessoas que desejam manter o seu orgulho de não darem trabalho a ninguém.
Para estas pessoas temos que criar este modelo que não pode afastá-las das zonas geográficas onde sempre viveram, que terá de garantir a total liberdade e respeito pelos seus interesses e que ao mesmo tempo salvaguarda qualquer situação imprevista de doença com resposta imediata, firme e de grande qualidade, sempre na perspectiva da recuperação, contrariando a atitude hospitalar e dos profissionais de saúde que entende não dever investir numa pessoa com 80 ou mais anos.
Obviamente que estas unidades tem que ser dotadas de novos profissionais, novos projectos de ocupação, lazer, comunicação, segurança, etc.
Pretende-se um modelo novo em todas as suas perspectivas que possa ser sustentado por custos do cliente que não ultrapassem os 1800 euros.
O primeiro passo para este modelo é a criação da Consulta de aconselhamento para um envelhecimento seguro e tranquilo a qual será oferecida gratuitamente a todos os maiores de 65 anos e na qual poderá ser planeado o envelhecimento da pessoa.
Por último deve dizer-se que não percebem os receios do risco para os investidores já que qualquer que seja o modelo pode perfeitamente alterar em função do insucesso da operação, ou seja, um modelo para pessoas independentes com continuidade de cuidados quando da dependência pode, em qualquer altura, tornar-se uma unidade de pessoas dependentes. No fundo esta questão é mais da operação do negócio do que propriamente do investimento.

Seminário " Direitos e Decisões das Pessoas Idosas" AAGI-ID

Realizou-se no passado Sábado o Seminário “Direitos e Decisões das pessoas Idosas”, iniciativa da Associação Amigos da Grande Idade em parceria com o Instituto Leopoldo Guimarães. Este Seminário, aberto ao público, foi também uma das acções de formação que constituem os módulos da 1ª Pós Graduação em Gestão de Equipamentos destinados às Pessoas Idosas que continua a decorrer com a coordenação da AAGI – ID, organização logística do ILG e creditada pela universidade Fernando Pessoa.
O Seminário teve a participação de mais de uma centena de pessoas das mais variadas áreas, destacando-se contudo a área de saúde e a área social. A participação ultrapassou todas as expectativas e veio demonstrar que a pertinência dos dois temas tratados é do interesse dos profissionais e das pessoas em geral: Direito das Pessoas Idosas e também os assuntos relacionados com a funcionalidade como determinante de importantes decisões das Pessoas idosas.
Após uma breve declaração de abertura do Professor Doutor Leopoldo Guimarães este evento iniciou-se com uma mesa constituída pelo Presidente da associação, Rui Fontes e a Dr.ª Lúcia Lemos, advogada e que apresenta grande e variado conhecimento do ponto de vista jurídico sobre problemas essenciais que afectam a vida das Pessoas Idosas, dos profissionais das Instituições e dos familiares. A parte da manhã foi preenchida com interessante debate sobre questões concretas colocadas pelos presentes, aproveitando a presença da Dr.ª Lúcia Lemos.
Destaca-se que a apresentação feita por Rui Fontes foi enriquecida com a leitura de um relato feito por uma idosa cujos filhos colocaram num lar contra a sua vontade. A leitura foi feita por duas residentes do Lar de idosos do SBSI/SAMS, D. Conceição Taurino e D. Suzete Bogalho. Este momento foi muito aplaudido pelos presentes
Depois do almoço, a tarde foi preenchida com as apresentações feitas pelo Vice-Presidente da Associação, César Fonseca e do Professor Doutor Trovão do Rosário sobre a funcionalidade humana e a sua influência na tomada de decisão das pessoas idosas. Seguiu-se igualmente um debate interessante e vivo entre os oradores e os presentes.
A Associação Amigos da Grande Idade destaca a afluência das pessoas a um evento realizado a um Sábado, provando o interesse que este tipo de iniciativas ainda que modestas tem para todos os que desempenham funções na área dos cuidados e serviços a pessoas idosas.
Foi despertado também o interesse na constituição de grupo de cidadãos que possam trabalhar nos Direitos das pessoas idosas, sendo isso um dos objectivos iniciais da Associação que não se desenvolveu por nítida falta de pessoas que se disponibilizem para trabalhar neste tema.