segunda-feira, 21 de abril de 2008

TOMADA DE POSIÇÃO

Tomada de Posição

“O modelo actual dos Lares de Idosos e Casas de Repouso tem que ser repensado”.

O modelo actual dos Lares e Casas de Repouso faz com que coabitem no mesmo espaço, cidadãos independentes, com mais de 65 anos de idade e cidadãos com graves problemas de saúde e elevada taxa de dependência.
É extraordinária a violência com que observamos, cidadãos activos com mais de 65 anos de idade, perfeitamente capazes de iniciarem uma nova fase da sua vida, a viverem em unidades, onde se encontram outros cidadãos que necessitam de cuidados de saúde devido às elevadas taxas de dependência, doenças crónicas incapacitantes e deterioração de consciência.
As contradições deste modelo são evidentes:
a) Os cidadãos que são colocados em lares e casas de repouso e que são saudáveis, não necessitam de cuidados de saúde, de higiene e conforto e de apoio técnico, mas tem que suportar o peso desses custos, porque os mesmos são necessários para outros cidadãos que se encontram nas mesmas instalações e têm graus de dependência elevados;
b) Os cidadãos com enormes necessidades de saúde não têm o acompanhamento de técnicos de saúde especializados, deteriorando cada vez mais esses problemas, na velha perspectiva de que não existem cuidados preventivos mesmo nesta fase da vida;
c) A comparticipação é exactamente igual para cidadãos com necessidades específicas de cuidados de saúde e para outros cujas necessidades são simplesmente sociais e de serviços hoteleiros, sabendo nós que os custos de umas e outras são extraordinariamente diferentes, sendo que neste momento os custos com cuidados de saude estão a ser suportados de forma dramática pelos operadores deste sector (Lares e Casas de Repouso).

Com a chegada do Decreto-Lei n.º 101/2006 de 6 de Junho que vem regulamentar o modelo de intervenção em matéria de cuidados continuados integrados destinados a pessoas em situação de dependência, agrava as descriminações entre cidadãos, se não vejamos:
a) Cidadãos nas mesmas condições de saúde e com a mesma dependência poderão estar em lares, onde recebem uma comparticipação do estado mínima, que não prevêem encargos de técnicos de saúde e por outro lado, se estiverem em Unidades de longa duração e manutenção, a comparticipação do estado é em média três vezes superior;
b) A descriminação poderá simplesmente ser feita por uma equipa de avaliação, cujos critérios são subjectivos e perfeitamente inconclusivos.

Salvaguarda-se que nenhuma critica está aqui a ser feita aos cuidados continuados. O que se passa actualmente é que os lares e os cidadãos residentes em lares ficaram de fora da grande reforma dos cuidados continuados.

Entendemos que as unidades Lares e Casas de Repouso, têm de prestar cuidados adequados, diferenciando-os em função das necessidades dos utentes devidamente avaliadas com critérios rigorosos, sérios e que deixem pouca margem à subjectividade. Na saúde essa subjectividade não pode existir, sendo que é fácil a sua existência na avaliação social de necessidades.
A oferta de lares e casas de repouso diferenciada, atendendo às reais necesidades dos cidadãos não pode ser exclusivo para os cidadãos mais dotados economicamente, a exemplo das residências assistidas, de vida independente ou de vida apoiada.

É pois necessário começar a encontrar soluções e uma delas passará certamente por termos ofertas diferenciadas, aproveitando as que já existem e adaptando-as às necessidades, criando uma rede complementar com as diversas unidades que se encontram no terreno

Impossível, dirão muitos. Impossível reunir misericórdias, IPSS e lares e casas de repouso privados, para em conjunto reflectirem sobre este assunto e daí advirem tomadas de posição, que possam vir a influenciar não só as tutelas como a comunicação social, os líderes de opinião e os cidadãos em geral. Impossível determinar que a partir de determinada altura uma unidade Lar existente passe a admitir exclusivamente cidadãos dependentes e outra passe a admitir exclusivamente cidadãos independentes e que possam passar de uma unidade para outra conforme as suas necessidades.
Contudo é exactamente isso que acontece nos cuidados continuados com enormes vantagens já reconhecidas no pouco tempo de existência dessa rede. Designa-se por mobilidade dentro da rede.
Se pensarmos bem, concluímos que em cada região existem várias ofertas para a Grande Idade e que todas seguem o modelo existente. Coma vontade de todos é possível distingui-las através dos serviços que possam vir a prestar. Sem que alguém perca mas acima de tudo com um imenso ganho por parte dos cidadãos. E não é isso que todos pretendemos?
Mas mais do que a vontade e os interesses particulares de cada unidade existe uma forma de partir para um novo modelo de oferta de serviços e cuidados em rede. Isso passará por uma nova contratualização do sistema actual de comparticipações deste sector de actividade. Um novo modelo de comparticipação determinará a especificidade das unidades e obrigará ao trabalho em rede.

Há pois trabalho a fazer:
a) Reunir e fazer discutir este assunto com as Instituições: Misericórdias, IPSS e Privados.
b) Motivar os profissionais de saúde a aderirem ao mercado de trabalho dos lares e casas de repouso, impondo as características de modelo de saúde que grande parte destas unidades devem ter.
c) Esclarecer dúvidas e lançar projecto-piloto regional que desenvolva este modelo.
d) Reflectir e influenciar novo sistema de contratualização/comparticipação do estado.
e) Melhorar permanentemente esta ideia inicial de modelo em rede com respostas diferenciadas, através de acções públicas, fóruns e outros eventos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Quero dar os parabéns a esta excelente associação, pois tem óptimos planos para os idosos.
Vi-vos na televisão no programa "DEPOIS DO ADEUS" e passaram uma excelente imagem da associação. Quero também dar os parabéns ao Senhor RUi FONTES, pois falou muitissimo bem!


PARABENS E CONTINUEM

PNeto disse...

Estou de acordo com a sua análise, que peca apenas por excluir uma peça fundamental: o Apoio Domiciliário. Em todos os países da Europa Ocidental, EUA, entre outros, o Apoio Domiciliário tem vindo a ser apontado como a principal solução para a insuficiência de oferta das instituições. Aliás, como muito bem refere, muitos dos utentes de Lares e Casas de Repouso não necessitam de lá estar, isso apenas sucede ou por "divórcio" da família para com a situação do seu ente mais idoso, ou porque o Estado comparticipa as instituições mas não faz o mesmo com o Apoio Domiciliário.
Enquanto continuarmos a pensar que os particulares e familiares devem ser os cuidadores, numa perspectiva desorganizada, desregrada, sem formação e sem responsabilização, o Apoio Domiciliário será de má qualidade e de difícil acesso. Se alargarmos esta discussão às empresas que existem nesta área, poderemos chegar a um resultado muito mais eficaz e com uma qualidade de vida muito maior para os idosos que ainda possuem autonomia e capacidade para ficarem nas suas casas.

Anónimo disse...

Na minha opinião foi levantado aqui um tema muito pertinente.

No entanto existem situações em que são os próprios idosos que querem ir para um lar, podendo isto ter como origem a existência de um casal em que um dos conjugues está perfeitamente bem (tendo em conta a sua idade) e o outro sobre de uma doença em estado avançado que requer cuidados específicos (tipo Parkison ou Alzheimer ou outro tipo de demência). Neste caso, ao irem para um Lar (devido a um dos membros necessitar de ajuda permanente para cuidar do outro), podem os dois estar juntos uma vez que, no presente conceito de Lar residem pessoas autónomas, semi-dependentes e dependentes. Contudo, ao se separarem as pessoas autónomas das semi-dependentes / dependentes, este casal teria um problema, pois cada membro encontra-se numa situação distinta.

Haveria que equacionar este tipo de problema, que talvez passe por a pessoa que está dependente decidir se quer acompanhar o conjugue e ir para a unidade de cuidados assistidos, podendo à posteriori (digamos, após falecimento do conjugue) e após avaliação da sua situação, voltar para um Lar de pessoas autónomas.

Óptima ideia a abertura deste blog para discussão destes temas.

F. Trigo

Anónimo disse...

Peço desculpa pela gaffe na mensagem anterior. Onde consta que a pessoa dependente pode escolher se quer acompanhar o conjugue, queria dizer que a pessoa AUTÓNOMA deve escolher se quer acompanhar o conjugue.

F. Trigo

PNeto disse...

Totalmente de acordo com as considerações do blogista F Trigo. Tudo passa por um modelo de Segurança Social diferente do actual, em que efectivamente se coordenem as diferentes valências no melhor interesse do utente, permitindo-lhe a escolha e o acesso às comparticipações justas para cada um.
Espero que a Associação seja um movimento de discussão destas realidades, para podermos influenciar positivamente os decisores, que normalmente estão centrados na realidade e dificuldades actuais e têm pouca disponibilidade para olhar um pouco mais à frente. O facto é que a capacidade do Estado está perto do esgotamento e a população idosa via aumentar significativamente nas próximas décadas, não só no número mas também na idade dos nossos seniores.
Estou com expectativas altas para esta Associação!